Roda 4 - O que é ser negro e Negra no Brasil?

Participantes atuam em escolas do Ensino Fundamental I e II na comunidade quilombola de Monte Recôncavo, certificada pela Fundação Cultural Palmares

Por  Carolina Carvalho

A Comunidade do Quilombo Monte Recôncavo recebeu a palestrante Vanda Maria Menezes Barbosa para discutir o tema "O que é ser negro/a no Brasil”, no último dia 21 de outubro, no município de Monte Recôncavo, Bahia.

A atividade teve início com a apresentação dos organizadores – IROHIN e representantes do Quilombo Monte Recôncavo. Logo no início representante da entidade IROHIN explicou aos presentes o objetivo daquela atividade e que a realização de Rodas de Debate, como aquele, faziam parte de um Convênio firmado com o governo federal através do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que teve apoio financeiro de uma Emenda Parlamentar da Deputada Luiza Erundina, cujo objetivo é a criação de uma Biblioteca Digital que colocará à disposição de estudantes, pesquisadores e do público em geral uma biblioteca especializada, contendo diversificado material bibliográfico (livros, periódicos, separatas, folhetos), material arquivístico (relatórios, documentos de organizações negras, cartazes, panfletos, matérias jornalísticas, fotos, filmes e fitas).

Após uma rodada com a apresentação de todos/as presentes a Oficina “O que é ser negro/a no Brasil”, que ocorreu no dia 10 de setembro de 2019, no Município de de deu-se início a explanação da debatedora Vilma Menezes, feminista e militante do movimento negro iniciou sua fala tendo por base o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que demonstra que as pessoas negras, em especial jovens mulheres, continuam sendo as que mais são mortas no Brasil, especialmente em ações policiais. Destaca que este é apenas um dos muitos dados que escancaram a desigualdade racial no país e o genocídio do povo negro, que representa mais da metade população: 56,1% dos brasileiros se identificam como negros, pretos ou pardos, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE

E ainda, apresentou, alguns outros dados: 

  • quanto aos indicadores relacionados ao acesso ao saneamento básico: 44% das pessoas pretas ou pardas não possuem nenhum serviço do tipo no Brasil. Com relação às pessoas brancas, esse número cai para 26,7%; 
  • na Educação: a desigualdade também está presente no âmbito educacional, a taxa de conclusão do ensino médio de alunos pretos ou pardos é de 61%, enquanto a taxa da população branca atinge 76%. 
Falou também da exclusão e da violência que sofre a mulher negra ao abordar que “ser mulher negra no Brasil é estar preso ao período escravocrata em que a mulher negra era destinada e associada apenas aos cuidados da casa grande e ao sexo”. Disse que, após a abolição sem outras opções de trabalho a mulher foi obrigada a voltar para as casas de família, com a única diferença é que não eram mais escravas, no entanto os maus tratos acompanhados de humilhações e indignidade permaneciam e permanecem até hoje. Além disso, o estereótipo associado ao sexo e a sensualização da imagem se perdura, basta ligar a televisão em épocas de carnavais para ver que a bunda vale muito mais que a mente. 

Na sequência a professora Arly Alves Batista destacou episódios locais de racismo e falou sobre práticas pedagógicas que podem contribuir para a formação intelectual das crianças, respeitando a diversidade e as origens da comunidade afrodescendente.

Outra intervenção foi feita pela professora Heloísa Fontes que destacou a importância das/os profissionais da educação reconhecerem a sua própria identidade étnico racial para terem condições de oportunizar experiências positivas aos alunos e alunas sobre o pertencimento racial de cada um e de cada uma. Concluiu dizendo: “Nós, professoras, temos grande responsabilidade nesse processo e devemos ser decisivas na formação de cidadãos e cidadãs que possam contribuir para a formação de uma sociedade que respeite as pessoas independentemente da cor da sua pele”, complementou Elizângela Santos da Cruz.


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